29 de maio de 2011

Clara e a luz

Por entre os ramos da laranjeira - incrível como cresceu em tão pouco tempo! - projectam-se os raios de sol que se vão inclinando como a tarde e me chegam furtivamente às pálpebras. Deixei-me adormecer outra vez. Eu e ela. Um anjo de serenidade no meu regaço. Duas luzes que se cruzam em mim: a luz etérea do sol e a luz pura da pequena Clara adormecida ao meu colo.
Nestes dias quentes, é fácil adormecer assim, cá fora, na cadeira de baloiço, rodeada por estas cores quentes de Verão, a relva que não denuncia ainda a exaustão estival, as bolas coloridas espalhadas aqui e ali, empurradas pela brincadeira e pela correria dos pequenos e do Flake, o som das suas vozes, os seus gritinhos e as gargalhadas, a ecoar por todo o quintal.  
Olho para ti. Serena. É um segredo só nosso, mas a verdade é que és tu que me embalas a mim. Foi preciso que entrasses na minha vida para finalmente abrandar o passo, pôr de lado o ritmo desenfreado que se apoderou de mim como um vício e tirar enfim partido da felicidade que ainda hoje duvido merecer e da paz que entrou no nosso mundo de mãos dadas contigo.
Alguns dizem que se parece comigo. Nestas coisas, toda a gente tem opiniões e teorias, toda a gente vê traços diferentes. O olhar do papá, a expressão do avô, o tom de pele e o cabelo do mano, o nariz da mãe (espera-se que não!). Podem dizer o que quiserem. Como eles, também eu te vejo de uma maneira só minha. Olho à minha volta e depois de novo para ti. De ti emana a calma do teu pai. O mesmo olhar profundo e intenso. As linhas do rosto do mano, talvez... Pequenina, como nós todos. 
Mas e que importa? És única, igual a ti mesma e simultaneamente és um pouco de todos nós e é aí mesmo que reside toda a magia! Uma estrela que veio alterar por completo o movimento e o sentido da espiral dos nossos dias. Um ser pequenino e frágil que, sem o saber, chegou para criar uma revolução. Uma revolução inesperadamente sublime...
[Secret heart]


Para o desafio de Maio
com o tema Mãe

2 comentários:

  1. Só se percebe o que é ser mãe (ou pai) depois de termos um filho(a), depois de percebermos que existe alguèm indefeso que depende de nós, depois de alterar-mos toda a nossa vida e passamos a viver em função de alguém que passou a ser a pessoa mais importante do mundo e pela qual tudo faremos.

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