3 de dezembro de 2009

Morte reanunciada e triste

Acabo de regressar da faculdade. Falou-se hoje em audiolivros e outros suportes digitais, alternativas, complementos, concorrentes - não sei bem - dos livros em formato clássico. Falou-se nas suas vantagens, de como procuram alcançar e cativar o público...

Entro em casa e tenho à minha espera, em cima da cama, a caixa com o último livro que encomendei online. Também eu comecei a aderir a essa alternativa comercial, por questões sobretudo práticas - porque continuo a não dispensar ocupar um bom tempo em livrarias.

Li há dias um artigo no The Guardian que falava precisamente da diferença abissal que há entre encomendar um livro na Amazon, por exemplo, acto meramente mecânico, e deixar-se enfeitiçar por um livro que "chama por nós" numa estante da livraria, um livro que nem sabíamos que existia:

Contrary to popular belief (...) shopping for books is like shopping for clothes, or a husband: sometimes you don't know what you want until you see it, and this is where a good store comes in. (...) later that same day I made a trip to a new shop, Lutyens & Rubinstein in west London, and there it was, sitting in the window, calling out to me at the top of its voice.

Não ouvi as notícias de hoje. É sempre tudo a correr nos dias de aulas.
Chega-me a notícia por uma amiga, via SMS: a Buchholz entra em liquidação total de stock durante este mês.
Sabia do inevitável e triste fecho da livraria no passado mês de Abril... mas acho que a minha memória selectiva fez com que me esquecesse do facto... Até hoje...

A livraria alemã foi um ícone da minha vida académica. Encontrei lá muitos dos títulos que procurava... Deixei-me encontrar por outros tantos... Preferia o piso de baixo, era lá que se reunia o meu mundo... literatura alemã e inglesa, materiais didácticos... Era uma casa que tinha uma aura quase mística, nada comparada com os espaços comerciais e excessivamente impessoais onde muitas vezes compramos os nossos livros agora... Tinha quase ar de alfarrabista, aparentemente em desordem, mas tudo no seu lugar, afinal...
Constatar, com esta espécie de desmembramento final, a morte de um marco cultural da nossa Lisboa deixa-me desolada e a pensar no que estamos a deixar que aconteça com estes espaços...

2 comentários:

  1. Já foste à Livraria Lello no Porto? Vais amar! Beijocas

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  2. Só conheço a livraria de nome, mas pretendo ir lá esta semana, aproveitar a liquidação total. A verdade é que a Fnac, mais que a Amazon, ganha a estas livrarias. Pode-se folhear os livros, sentar a ler, coisa que antigamente muitas livrarias não aceitavam muito bem. Tenho pena da morte das lojas de bairro, indepentemente do que vendam, porque representam um nicho de conhecimento do que se vende, que se está a perder.

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