27 de junho de 2010

Atravessar


O caminho é solitário, mas o destino não. Sozinha, atravesso como tantos outros aquela que personifica a união, em jeito de rebeldia contra essa distância naturalmente imposta.


Pergunto-me o que pensam todos esses rostos que vêem muito para além do que está à sua frente. Pergunto-me o que os esperará do outro lado.

Pergunto-me se eles farão as mesmas perguntas silenciosas sobre mim e o que vou fazer quando captam distraidamente o meu perfil pelo canto do olho… Conseguirão eles ver nos meus traços qual o destino para onde sigo?...

O trânsito pára. Não me surpreende nem me aborrece já… O tempo não é o que mais importa agora…

Deixo os outros rostos e olho lá para baixo.

As correntes desenham aquilo que sonho serem fios condutores de histórias sopradas por ninfas apaixonadas que assim decidem a linha da vida dos mortais que não desconfiam sequer da sua existência, quanto mais do seu poder sobre nós.

Sonho que nessas linhas instáveis e livres se desenha também o meu caminho. Sonho que algures no percurso já está desenhada esta paragem na ponte, no limbo, e que, mais à frente, depois de muitos entrecruzamentos, muitos desejos, muitas fugas, o desfecho também já lá está.

Sonho que por serem amantes do amor, também elas se decidam por fazer aportar essas linhas aparentemente sem rumo certo em portos pacíficos e abrigados da tempestade, onde possam enfim entrelaçar-se em nós perfeitos e certos.

O trânsito retoma o seu andamento. Os olhares retornam à consciência e seguem caminho… Mais à frente, o porto para as suas linhas espera-os...


sonhado a 09 de Junho de 2010

2 comentários:

  1. Sinceramente acho que tudo é demasiado complicado. Somos pessoas complexas e esperamos sempre o melhor dos nossos e de tudo, tal como sempre demos. Mas a verdade, é que nem todos são assim. E muito sinceramente, o melhor é também não querer saber. Não porque sejamos assim, mas porque talvez seja a melhor maneira de nos protegermos até ao dia certo.

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  2. O sonho determina imenso o sentido que damos ao nosso quotidiano, as escolhas que fazemos.

    Chama-se a isso viver plenamente.

    Bjs

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