9 de maio de 2012

A Feira do Livro

Passar pela Feira do Livro de Lisboa é um ritual que remonta aos tempos da faculdade e ao qual não costumo faltar. Este ano não foi excepção. Excepcional, sim, foi a companhia: em quatro pessoas, a Feira foi uma estreia para duas delas e para a outra foi apenas a segunda vez.

Comecei a ir à Feira na faculdade, há cerca de 10 anos atrás (bolas, 10 anos já?!!!) e, antes disso, achava que "toda a gente" por lá passava menos eu. Curiosamente, vou percebendo que não é bem assim. (Ele às vezes pergunta-me o que quero dizer com este "toda a gente", que tanto gosto de usar, e eu raramente tenho resposta para lhe dar e, pior, quando a tenho, percebo frequentemente que a expressão é overrated* e que o meu "toda a gente" mais não é do que duas ou três pessoas com quem tenho em comum o assunto de que estou a falar.) Mas adiante. Pois que, afinal, vou percebendo que o passeio pela Feira não é coisa assim tão habitual ou natural para "toda a gente".

Ele pergunta-me: mas e qual é a diferença entre vir aqui ou a uma FNAC?
Quero indignar-me com a pergunta, responder um seco "Tu não entendes! É o espírito, claro!", mas depois olho em frente e vejo o átrio do grupo Leya. Estendo o olhar até ao outro lado do relvado e vejo os rostos dos vários escritores que se enfileiram nas paredes do grupo Porto Editora. A confusão, a actividade, o foco das atenções incide sobre estes dois espaços sobretudo, relegando o restante para segundo plano. Percebo que não lhe posso dar a resposta indignada que ensaiava cá dentro porque, no fundo, ele tem razão em parte. A Feira é um espaço desequilibrado, em que dois pesos pesam demasiado para um dos lados: o capitalista. E quanto a mim, mea culpa, que o único livro que comprei foi precisamente num destes grupos.

Mas a Feira que atraía os românticos das Letras não era bem essa.
Era a Feira dos alfarrabistas ao fundo do lado da Sidónio Pais e que ainda lá estão. (Sempre ocuparam este espaço?)
Era a Feira das barraquinhas pequenas em que grandes e pequenos editores não se distinguiam pela área que ocupavam, em que todas as editoras tinham espaço e visibilidade iguais.
Era a Feira em que as pessoas circulavam de um modo mais fluido, sem ficarem "presas" a espaços específicos.
Era a Feira em que dizia "trouxe da Teorema a trilogia do Calvino" ou "encontrei na Cotovia um livro com ensaios do Wilde"...
Este ano, comprei apenas um livro e, já de saída, disse "Ainda não passámos na Bertrand, que estranho..." ao que logo me apontaram para o saco trazia na mão... da Bertrand, precisamente...




*Esta palavra não me sai da cabeça
 e a culpa é vossa, R. e G.!!!  

4 comentários:

  1. Este ano não consegui ir, com muita pena minha.

    Big Kisses

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  2. Este ano não consegui ir, com muita pena minha.

    Big Kisses

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  3. Percebo o teu espírito, mas infelizmente não partilho dessas tuas experiências!
    A porto Editora e a Leya são dois gigantes editoriais e acabam por abarcar quase todo o mercado (embora também englobem várias editoras mais pequenas), o que por um lado facilita a difusão de novas obras e o maior apoio aos escritores, mas por outro asfixia completamente as editoras menos conhecidas.
    Em geral, foi um passeio interessante e só tenho pena de não ter chegado a comprar nada, mas sabes como é que sou com tanta gente à minha volta! Não consigo pensar como deve ser. Para o ano, se lá voltar será num horário matinal!
    Um beijinho*

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  4. Percebo o teu ponto de vista, apesar de não ter partilhado essas experiências. E acho que se é verdade que a Porto e a Leya asfixiam as editoras mais pequenas, também é verdade que têm maior possibilidade de divulgar escritores e promover obras, sem esquecer que também englobam editoras mais pequenas.
    Sabes que a lei da concorrência é dura!
    Para o ano, se lá voltar, será num horário mais matinal para ver se consigo comprar alguma coisa, já que com tanta gente nem consegui ver o que me interessava!
    Um beijinho*

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