2 de novembro de 2009

Cidade de conto

Inspirada por um exercício que encontrei muito perto,
dei por mim a pincelar esta cidade do meu coração
num pequeno pedaço de papel que entretanto se perdeu...
e deixou-se encontrar hoje...
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Debruçada na varanda do Caminho do Filósofo, contemplo a tela que se estende perante mim.

Acariciada pelo beijo suave e pacífico do Neckar, a outra margem abre caminho para uma cidade de conto.

Na ténue linha de relva e plátanos, dois casais solitários passeiam indolentemente, alheios ao rebuliço da globalização que parece não ter chegado ainda aqui.

A malha é cerrada. Manchas entrecruzadas de telhados seculares parecem içar-se ansiosos para tentar alcançar os raios de Sol do fim da tarde que ainda reflectem nas vidraças das suas águas furtadas.

Aqui e além sobressaem atentos guardas: a torre da capela, as cúpulas da Velha Aula da faculdade, o campanário da igreja evangélica. Protegem nesta cidade de Amor e de Saber todos os seres que por ela circulam, que nela se aninham, que esperam o seu respeito e protecção, que aguardam beber dela e nela o tão ambicionado crescimento.

Ao fundo, tranquilo mas imponente, o castelo ergue-se sobre a cidade, observador atento, mas sem interferir. O seu tempo já passou. Sabe que agora se deve limitar a adornar respeitosamente o sopé da montanha, relembrando tempos de glória passados. E assim mesmo a sua presença inspira o respeito e a vénia de quem se surpreende por ver ainda viva esta cidadela orgulhosa de conto de fadas.

Atrás, aliada do castelo, a floresta trepa pela serra acima. Toalha uniforme apenas na aparência, pois esconde em si inúmeros pequenos pontos de vida, salpicos quase imperceptíveis de telhados e caminhos. Esta é a imbatível barreira de abrigo que protege o manto mágico que se estende aos seus próprios pés.

Só à distância consigo descrever esta visão extraordinária que também eu, sedenta de Amor e de Saber, fui descobrir tão longe e de repente tão perto de mim. Tal como o fez o filósofo um dia, também eu parei para contemplar apenas… e apenas muito tempo e palavras depois consigo pintar a verbo e nome a cidade que me deixou queda e encantada.


Heidelberg

3 comentários:

  1. A distância (no espaço e no tempo) deixa-nos apreciar melhor o que dantes apenas tínhamos visto. A saudade deve ajudar...
    Bonita cidade e bonito conto.

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  2. Olhos e Galo: Obrigada por apreciarem a "minha" cidade... Espero que fiquem com uma pontinha de curiosidade por conhecê-la! :)

    Sim, a distância faz com que consigamos descrever de uma forma mais clara o que sentimos no próprio momento! Acho que foi mesmo o que aconteceu neste caso.

    Beijinho*

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