8 de maio de 2009

Intertextualidade


«Todo o texto se constrói como mosaico de citações,
todo o texto é absorção e transformação de um outro texto.»
Julia Kristeva


Eu costumo chamar a isto uma espécie de "occupational hazard", se bem que o trabalho com a literatura já não é parte activa do meu quotidiano... mas sim, de vez em quando vêm-me à mente (acho que é suposto isto acontecer!) notas daquilo que fui aprendendo nos últimos anos...

Intertextualidade
Um termo que, na minha inocência inicial, cheguei a atacar nas aulas de Introdução aos Estudos Literários como um eufemismo para plágio ou, quando muito, para acusação de plágio!

Ainda mal tinha começado as minhas caminhadas pela literatura e foi-me difícil aceitar o conceito de que as obras vivem constantemente de referências a outras... Depois da indignação da ideia do plágio, seguiu-se-lhe outra: a injustiça para com os autores em geral! Identificar traços de intertextualidade seria, a meu ver, atacar as suas qualidades criativas!

À medida que se vai começando a identificar o dito intertexto, percebe-se finalmente que este é um processo tão ou mais criativo do que a criação pura - é a capacidade de adaptar, reconstruir, remodelar algo para enriquecer a criação.

Para o leitor, por sua vez, quando toma consciência do facto, começa mesmo a ser divertido entrar no jogo das identificações, dos reconhecimentos... é como desconstruir um puzzle e perceber, a páginas tantas, que já se deu uns bons mergulhos na literatura!

Eu descobri este conceito na literatura, mas, obviamente, ele está espalhada e prontinho a ser encontrado por todo o lado na nossa sociedade, na publicidade, na arte e no design, sei lá...

Aqui fica um dos inúmeros exemplos que se podem encontrar, e dos mais claramente identificáveis (e fofinhos!), implicando as personagens de banda desenhada do americano Bill Watterson, Calvin & Hobbes, muito bem ilustrado pela Joana Raposo :


Calvin & Hobbes ou Italo Calvino & Thomas Hobbes

Em todo o caso, não consigo deixar de associar este processo à própria construção da nossa personalidade! Não é o nosso carácter, o nosso comportamento, a nossa vida, uma série de entrecruzar de textos, de posteriores readaptações e reconstruções? O nosso percurso é uma linha contínua, mas fluida, que se enrola e se sobrepõe frequentemente e nós vamos, inconscientemente, criando o nosso próprio intertexto...

Sem comentários:

Enviar um comentário