10 de junho de 2010

Ilusão óptica

Ser pleno? O que é isso afinal?

Sentir que se tem uma vida preenchida, que o calor das relações nos sustém e nos guarda, como uma estufa onde crescem e vivem no auge do seu viço as plantas mais frágeis e mais belas.

Sentir que falta pouco para ser feliz, que o essencial está ali, à mão, à distância de um toque. Caminhar com um sorriso. Ou mesmo com um olhar triste, porque se sabe que, assim mesmo, num inexplicável movimento de magia, a sinergia de que a tua existência se faz valer consegue compensar, voltar a preencher, o hiato que possa ter sido criado por essa tristeza, ou por qualquer outro inadvertido passo em falso.

Julgar que é assim, que é isto o que há para aspirar. Que o teu copo está cheio, que mais do que isto apenas o faria transbordar.

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A dada altura percebes que a sensação de completude era mera ilusão óptica. A perspectiva muda, como quem vira uma clepsidra ao contrário e descobre que há espaço ainda a preencher, percebe que há vivências, sensações, que fazem, afinal, muita falta. Percebes que há muito mais, que aspiras a mais.

Já não te chega apenas aquela redoma que te guarda a ti e aos nutrientes de que precisas para sobreviver. Porque mais do que sobreviver, queres viver, sentir, ser arrebatado da linearidade do teu caminho por uma rajada de vento, apanhado de surpresa por uma vaga de chuva fria que te queime a pele.

Crescer, percorrer outras estradas…

E esse copo nunca está totalmente cheio. Num acesso de sadismo, os deuses decidiram um dia que a linha de água no teu copo nunca há-de chegar ao topo, que da mesma forma que ao aproximares-te da base do arco-íris, ela parece fugir para mais longe, também a linha do teu copo sobe um pouco mais de cada vez que te aproximas do seu limite.

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Para o desafio de Junho,
com o tema Estava vazio...

1 comentário:

  1. Hoje em dia as pessoas são cada vez mais egoistas, querem receber aquilo que não querem dar... por vezes a felicidade e as coisas verdadeiras, as que são essenciais, estão mesmo ali... mas toda agente, ou quase, prefere os floriados... e depois quando os floriados se vão com o vento... lamentam-se.... mas afinal porquÊ? Quando deitaram tudo a perder... quando escolheram o caminho fácil e rápido... já ninguém espera, já ninguém luta, já ninguém sabe dar a mão quando se está zangado...

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