por Ême
Há sempre uma primeira vez; a primeira cedência ao encanto do outro, o primeiro toque descoordenado de duas mãos, o primeiro beijo que tem tanto de desajeitado como de delicioso, o primeiro olhar cúmplice que comprova que "tu és eu" porque "tás a pensar no mesmo que eu", a primeira vez em que despes a roupa e a alma e deixas-te ir, fechar os olhos e cair para trás sabendo que alguém [alguém não, Ele] estará lá para te segurar, amparar e, com sorte, te beijar carinhosamente o pescoço. Há sempre uma primeira vez para fechar os olhos e arriscar tudo na pessoa que pode ser [é] the special one. Sempre. Há sempre um momento em que vês dois caminhos e escolhes aquele que te faz sentir feliz porque nem vês o outro, porque não há como não seguir em frente, porque é o único oásis no deserto que foi a tua vida antes dele. Ele.
E depois, por vezes, há um momento em que sabes que dali para a frente só vai existir chuva. E dor. E insónias. Há sempre um momento em que sabes [porque sabes] que dali para a frente, tudo vai virar-se do avesso e, caso continues, só irás ouvir o uivo do lobo solitário que, se parares para pensar, serás tu.
Há sempre um minuto, dois, vá, em que realizas que dali para a frente não irás adormecer facilmente porque os batimentos do teu coração farão tanto barulho, tentando encaixar o ritmo, que não poderás descansar, e sabes que, a partir daquelas palavras, daquela constatação, daquele momento que pode até ser insignificante para todos mas que te farão sentir serem a curva da estrada, Tudo irá mudar. Na mente, acredita em mim, irão ecoar frases em inglés, normalmente é o "the point of no return" e depois, para alternar, darás por ti a cantar Gilbert Becaud e o doloroso "Et maintenant". Tens o filme todo à tua frente. Sabes.
E sábio é aquele que se entregou quando teve vontade, sem reservas nem merdas e apostou o seu coração naquela pessoa que, como por magia, lhe encheu o coração de gomas e confetis. E sábio é aquele que sabe que, a partir daquele momento, aquele gesto, frase, pressentimento ou seja o que for [quando acontecer, tu sentes, descansa] vira as costas antes de se transformar no tal lobo solitário que uiva desalmadamente. Bonito é manter a coisa na ilusão, escolher acabar ali o filme por saberes que irá acabar mal. Não é cobardia, sabes? acho que lhe chamam protecção. Sabes que daquele ponto tudo irá ficar nublado e feio e desligas a televisão. É uma opção. Não sei se digna, sei que menos dolorosa.
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