Caem sobre nós gotas quentes de Sol, do calor que, ao longo dos dias estivais, foi sendo secretamente desviado para parte incerta. Ou quase...
Escondida nas nuvens áureas que adornavam esses dias, uma rainha desconhecida, senhora das gotas de orvalho e das tempestades de gelo, foi colhendo os raios sorridentes que, imprudentes como gaivotas em busca de alimento, apontavam o mergulho em direcção ao espelho do mar e depois batiam em ricochete rumo ao azul celeste...
Agora, caem os primeiros salpicos, ainda quentes, anunciando a entrada em cena do Outono, esse velho contador de histórias que, de costas para o mar, vai pintando fábulas em tons sépia sobre as clareiras e as florestas e deixando cair folhas amarelecidas com poemas sobre essa maravilhosa soberana que não se caminha senão sobre um leito de cores de fogo e, paradoxalmente, sob um manto de vento fresco em tons de cristal.
Trazem consigo o cheiro do calor, ainda, esses primeiros salpicos divinos que caem em nós. Sorrio ao senti-los acariciar-me a pele do rosto e ao vê-los pousar quase imperceptivelmente sobre as madeixas do teu cabelo, aí se detendo por instantes antes de se fundirem no nosso próprio calor, que é, afinal, a sua verdadeira essência. Pequenas fadas mensageiras de Titânia, trazem em beijos o prenúncio confiante de que o Verão acabará por regressar.
Para o desafio de Outubro,
com o tema O cheiro da chuva.
Está simplesmente maravilhoso...
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