Ficou assim na penumbra, ao abrigo do vento orvalhado que por estes dias vai deslizando sobre a madrugada. E no escuro, os sons fluem ao mesmo ritmo que a neblina, esse indolente urso branco que se passeia discretamente por entre as árvores, ao longo dos becos, do outro lado da vidraça da janela.
Um pingo solitário escorrega do algeroz e parte-se no mármore da janela.
A cadela solta o bocejo preguiçoso, o protesto pacífico contra mais um dia ocioso.
Os primeiros carros da manhã ecoam a conta-gotas na estrada ao fundo.
Prenúncios do acordar do dia que o amanhecer decide ignorar.
Aconchegado, sorve cada um desses sons com o mesmo prazer que sente, em tantos outros dias, com a entrada do Sol em palco. Hoje, porém, será diferente. Não sai à rua. Não despe sequer a mantinha cor de nuvem de chuva. O astro-rei cede o protagonismo e deixa reinar as cores e aos sons do orvalho da madrugada.
Regressam assim as manhãs e os tons do Outono…
muito bonito Anna!
ResponderEliminarbeijinho :-)
Incrivelmente belo. Só tu para relatar assim o Outono, de forma tão doce e sentida. Adorei.
ResponderEliminarEis um despertar mágico.
ResponderEliminarDe repente, pareceu-me ouvir uns acordes da «Pastoral» do Beethoven.
Bela narrativa, Anna
Obrigada Andy!
ResponderEliminarMenino do Mar, foi assim que o senti chegar até mim... Doce será a palavra, sim...
Obrigada!
JPD, magia?
A Pastoral? Quem sabe uma inspiração inconsciente... A consciente foi definitivamente a névoa que esconde a minha terra todas as manhãs no Outono...