29 de outubro de 2010

Quente



Caem sobre nós gotas quentes de Sol, do calor que, ao longo dos dias estivais, foi sendo secretamente desviado para parte incerta. Ou quase...

Escondida nas nuvens áureas que adornavam esses dias, uma rainha desconhecida, senhora das gotas de orvalho e das tempestades de gelo, foi colhendo os raios sorridentes que, imprudentes como gaivotas em busca de alimento, apontavam o mergulho em direcção ao espelho do mar e depois batiam em ricochete rumo ao azul celeste...

Agora, caem os primeiros salpicos, ainda quentes, anunciando a entrada em cena do Outono, esse velho contador de histórias que, de costas para o mar, vai pintando fábulas em tons sépia sobre as clareiras e as florestas e deixando cair folhas amarelecidas com poemas sobre essa maravilhosa soberana que não se caminha senão sobre um leito de cores de fogo e, paradoxalmente, sob um manto de vento fresco em tons de cristal.

Trazem consigo o cheiro do calor, ainda, esses primeiros salpicos divinos que caem em nós. Sorrio ao senti-los acariciar-me a pele do rosto e ao vê-los pousar quase imperceptivelmente sobre as madeixas do teu cabelo, aí se detendo por instantes antes de se fundirem no nosso próprio calor, que é, afinal, a sua verdadeira essência. Pequenas fadas mensageiras de Titânia, trazem em beijos o prenúncio confiante de que o Verão acabará por regressar.






Para o desafio de Outubro,
com o tema O cheiro da chuva.



28 de outubro de 2010

Inquieta

Está qualquer coisa prestes a acontecer...

26 de outubro de 2010

Da felicidade


... a vida concede a cada um de nós
raros momentos de pura felicidade.
Às vezes são apenas dias ou semanas. Às vezes anos.
Tudo depende do nosso destino.
~~~~
Carlos Ruiz Zafón
Marina

25 de outubro de 2010

Uma semana depois

Regressada de uma semana de férias quase perfeita, eis que finalmente recomeço a pôr ordem nas coisas.
O ritmo desde que regressei tem sido vertiginoso. E ainda bem. Voltei com energias renovadas... e sem quaisquer vestígios de jet lag!

Actualizado o Through my eyes (com as fotos das férias pelo menos), ficam então as minhas impressões pós-férias...



Do México:

Apesar de algumas complicações e inesperados (a incluir a passagem do Furacão Paola, uma avaria no avião de regresso, um assalto ao quarto dos meus amigos e movimentações indevidas na minha conta bancária), o balanço é positivo!
Claro que sim!
Disseram-nos que a praia de Punta Maroma seria uma das mais belas do México e não nos enganaram!
Terei caminhado, mergulhado, conversado e sorrido junto de uma paisagem única, de um mar caribenho tão pleno de beleza que, juro, nos faz rir!

O mar é de sonhos!
Nadam peixes junto às nossas pernas, como se nós também fizessemos parte da fotografia!

A fauna e a flora é imensa e está ali à mão de semear, já que toda a costa da Riviera Maya não era mais do que floresta junto ao mar, antes que os resorts turísticos começassem a florescer, literalmente, no meio desta. Pássaros, peixes, iguanas, caranguejos, eu sei lá! Vi de tudo um pouco.

O património arqueológico é muito abrangente e, claro, numa semana, não há tempo nem dinheiro para explorar tudo. Como toda a gente, seleccionamos uma de muitas ofertas. No nosso caso, Tulum, uma cidade maia não muito grande, não a mais significativa, mas provavelmente uma das mais belas, nascida para adorar o Amanhecer à beira de um penhasco com vista privilegiada para o mar das Caraíbas!

A comida... er... inclui quantidades demasiadas de tomate, pimento e picante para que me possa agradar. Assim mesmo, houve surpresas e adoptei mesmo pequenos vícios para a semana. A notar que aquelas alminhas usam como ingrediente nos pratos cacto! Cacto, senhores?!! Isso lá é de comer?!!

Já quanto à bebida, o discurso é outro! Admito que bebi no México o primeiro shot de tequila que me soube bem em toda a minha vida. De resto, acho que não bebi nada - com ou sem álcool - que não soubesse bem!

As actividades disponíveis são, tal como os locais de interesse arqueológicos, demasiadas para que se possa fazer tudo.
A não deixar passar é, sem dúvida, o snorkeling, que experimentei pela primeira vez e que me conquistou (apesar da minha insegurança).

Decidi também, quase distraidamente, nadar com golfinhos num dos quatro delfinários espalhados pela Riviera Maya e saí de lá fascinada e com um sorriso teimosamente parvo no rosto! A experiência é única! Os bichinhos amorosos!

Para completar o leque, conto com uma noite na afamada Coco Bongo, a discoteca de que aparentemente toda a gente fala (já eu nem sabia da sua existência!!!). Muito mas muito giro. Bom ambiente, divertido, dinâmico e animado e com uma noite inteira de animação com um show longo e abrangente, com luz, música, dança, acrobacia, representação... enfim... Valeu a pena!! 

Para uma próxima (quem sabe...), terá de ficar a passagem por um dos muitos cenotes da região, a ida até à barreira de coral, Chichén Itzá, a ilha Contoy e quem sabe o que mais...


De mim:

Incrível como escapar por uma semana pode exercer tal milagre em termos emocionais!
Regresso a acreditar novamente de que não preciso de psicólogos nem retiros nem o que seja para sair de um estado depressivo.
Tenho força suficiente em mim para tornar a mostrar o melhor de mim.
O sorriso que me elogiam todos os que me amam, que despertou um amor maior do que o mundo, continua cá e é por cá que ele vai continuar.

Os sentimentos voam connosco, estão em nós e acompanham-nos para onde quer que 'fujamos'.
Aquele que disse uma vez que olhos que não vêem, coração que não sente seria mais ingénuo do que ele próprio poderia imaginar.
O coração sente. Sente sempre. Vendo ou não.
Porque o amor, o afecto, a saudade, tudo isso flui em nós, no nosso sangue, na nossa essência.
E é precisamente o fluir de todos esses sentimentos em nós que nos torna criaturas bonitas.

10 de outubro de 2010

E esta semana...

...um pouco de paraíso para mim...

8 de outubro de 2010

A ti,

todo o meu amor!



Parabéns, bebé!

O tempo parece acelerar de cada vez que olho para ti.
Cada minuto passa por nós a galope!
Lá atrás, vão ficando pequeninas as fotos dos teus primeiros dias.
Começas a ter ar de menino, embora ainda dê por mim a chamar-te bebé. E tu respondes! E eu pergunto-me até quando o farás! Pergunto-me quando chegará o já não sou um bebé!!...

Contas-me tu as histórias.
Ensinas-me uma música nova.
Determinado, corriges-me quando necessário, porque tia, isso não é um peixe palhaço, toda a gente sabe que é o Nemo!
Perguntas-me porque estou triste e porque estou a rir.
Fazes perguntas difíceis. Muito difíceis, por vezes!
Dás ares de sábio quando nos contas qualquer coisa nova que descobriste.
Pintas, desenhas, constróis.
Aventuras-te já com as letras do teu nome.
Tens a tua quinta lá em casa, como a do avô, e todos os dias dizes que tens de ir para casa dar comida e água aos teus bichinhos. Avó, tenho muitas ovelhas, mas poucas galinhas!, ouvi-te dizer há dias.

E vives! Corres, saltas, brincas, cais e retomas a brincadeira!
Emanas uma energia que parece interminável!
E no final do dia, já cansado (que isto de ser criança também cansa!) vens ter connosco, perdes o ar de menino reguila e voltas a ser o nosso bebé... e pedes um abraço...

E quando é que tudo isso aconteceu?
Começou tudo há quatro anos atrás...
E o crescimento não tem acontecido só em ti, acredita!
Também nós crescemos contigo, a cada novo passo...

6 de outubro de 2010

O amanhecer esqueceu-se de despertar hoje


Mudou a estação e agora, em vez dos vaporosos lençóis azuis, aninha-se numa suave manta cinzenta enquanto é embalado pelos contos da voz fresca da noite, que se alongam e deixam esquecer que o dia está a chegar.

Ficou assim na penumbra, ao abrigo do vento orvalhado que por estes dias vai deslizando sobre a madrugada. E no escuro, os sons fluem ao mesmo ritmo que a neblina, esse indolente urso branco que se passeia discretamente por entre as árvores, ao longo dos becos, do outro lado da vidraça da janela.

Um pingo solitário escorrega do algeroz e parte-se no mármore da janela.
A cadela solta o bocejo preguiçoso, o protesto pacífico contra mais um dia ocioso.
Os primeiros carros da manhã ecoam a conta-gotas na estrada ao fundo.
Prenúncios do acordar do dia que o amanhecer decide ignorar.

Aconchegado, sorve cada um desses sons com o mesmo prazer que sente, em tantos outros dias, com a entrada do Sol em palco. Hoje, porém, será diferente. Não sai à rua. Não despe sequer a mantinha cor de nuvem de chuva. O astro-rei cede o protagonismo e deixa reinar as cores e aos sons do orvalho da madrugada.

Regressam assim as manhãs e os tons do Outono…

Lost in translation?! I

Porque é que eu acho que


viajar por posta

é capaz de não ser a tradução mais adequada para

travelling by post

Directamente do meu livrinho de cabeceira, que figura aqui à direita!
Tenho tanta vontade de pôr os dedinhos no original da coisa...

Ai de mim...
Porque é que não desligo o raio do sensor da revisão e
me cinjo a ler o meu livrinho descansada?...





3 de outubro de 2010

Uma questão de orientação

Coelhito para a Tia:

Tia,
toma este mapa
para saberes
sempre para onde vais.

Não-lugar

Redoma invisível e fechada.
Lugar onde o silêncio mantém a salvo das torrentes de palavras desconexas e desarticuladas que lanço ao vento.
Não falar. Não invocar. Somem-se os argumentos.
As emoções não se teorizam, não as podemos esperar compreender nem saber explicar.

Este lugar é meramente uma máscara translúcida, uma linha ténue que amortece os sons e os embates.
Mas aqui o ar não se respira, o silêncio é ensurdecedor e no caminho não se anda.

Aqueles do outro lado da mesa, aqueles que me seguram a mão, pedem que reaja.
Sim, aceno. Aceno com honestidade.
Sim, quero, vou fazer.
Mas querer reagir não é o mesmo que reagir.
Perguntam-me pelo sorriso.
Louvam-no se ele espreita inadvertidamente.
Que seja. Um pequeno esforço mais e empenho para usar a máscara.

Exaustão.
Neste não-lugar baixo os braços e admito que me faltam as forças.
As palavras que se acumulam dentro desta redoma ameaçam transbordar e sair a qualquer custo, provocando um caos maior do que em liberdade. Vão escapando como conseguem, se não em verbo, então em reacção.

Outro dia queria odiar o tempo.
Hoje chamo por ele e imploro-lhe que fique comigo.
Preciso dele para sair daqui.