27 de novembro de 2009

Everything is possible



When your heart is trying
to tell you something not that far from the truth
just do it!



Só porque esta música me deixa um sorriso nos lábios todas as manhãs e me faz voar e esquecer tudo...

26 de novembro de 2009

Marés



vêm e voltam
trazem destroços da tempestade
levam tristezas deixadas na praia
trazem garrafas com mensagens de sorrisos
levam esperanças de um encontro
trazem a espuma branca das paixões do mar
levam os efémeros castelos por mãos inocentes
trazem a água límpida que lava as lágrimas
levam para longe essas angústias mudas
trazem uma manhã aberta
levam a noite escura e sombria
trazem purificado aquilo que levaram um dia


25 de novembro de 2009

Entre os salpicos do orvalho e as caudas das estrelas

Relembro as curvas e os traços do caminho que me levou até ti... há quanto tempo foi? Já não o sei...

Relembro a descoberta de letras de sonho... bastava fechar os olhos e imaginar... e voava até esse mundo escondido no fundo da tua alma, nesses momentos de magia beijados pela brisa do vento que sopra suavemente vindo do sul... e era aí que me perdia... e vagueava sozinha e secretamente...

Como era mesmo o rasto de pedrinhas que deixaste para que chegasse até ti? Não, não eram pedras... eram salpicos do orvalho da madrugada, e cada um deles cintilava efemeramente, apanhava o meu olhar e logo desaparecia para deixar que o próximo brilhasse... Levaram-me até ti e deixaram-me à tua janela, por onde espreitei e encontrei o teu doce e meigo olhar que contemplava ausente o vazio... Não me viste... Ou assim o pensei...

Olho para trás e descubro que também tu lá tinhas estado à minha janela... tinhas seguido o rasto de uma noite de estrelas e encontrado por acaso este vale encantado onde me escondo... também tu paraste a observar enquanto debruçava o meu olhar sobre um livro... lembras-te de qual era? Sim... aquele que bem reconheceste...

Dir-se-ia talvez que os nossos caminhos se cruzaram... eu diria, porém, que fomos nós que inconscientemente traçámos esse caminho, que soubemos no nosso coração que haveríamos de nos encontrar e reconhecer... Quantas vezes ficámos à janela um do outro, apenas contemplando outro sonhador como nós mesmos? Os passos, os sorrisos, as letras, as cismas? Quantas vezes desejámos secretamente que o outro lá dentro olhasse na direcção da janela e encontrasse o nosso sorriso? E no entanto sabíamos que haveria de chegar esse momento, sem que tivessemos de o pedir...

O nosso encontro?
Algures, a meio caminho entre os salpicos do orvalho e as caudas das estrelas...

Pergunta descaradamente metafórica



Um banho de água fria é...

... um convite a uma gripe
ou
... uma estímulo à resistência
?!!

23 de novembro de 2009

Mudar de telefone

Pois que nas últimas semanas o meu telemóvel decidiu boicotar-me a comunicação e deixar de enviar e receber mensagens se não fosse desligado e ligado quase entre cada mensagem...

Ao fim de muitos stresses, neuras e falhas de comunicação - literais e alusivas - decidi que era tinha mesmo de comprar outro...

Lá fui eu toda feliz ao shopping este fim de semana e trouxe para casa este menino aqui ao lado! :)

Tarefa do serão de hoje: passar os números de telefone de um telefone para o outro (sim, porque o meu cartão SIM guarda pouquíssimos)...
Duas horas e meia e 174 contactos depois... estou aqui com uma cabeça e uma raiva visceral a números de telefone!!!

Mesmo assim, passei por aqui porque esta espécie de brainstorming de contactos me deu que pensar numas coisitas...

- 174 contactos?!! Só no telemóvel, fora os do cartão?! Mas eu lá conheço essa gente toda?!!!

- Há pessoas de quem gosto tanto e com quem já não falo há imenso tempo... e de pessoas que duvido que volte a contactar...

- Tenho aqui números de pessoas que não faço a mínima de quem sejam...

- Aparecem-me aqui números registados com nomes do tipo "Wedding" (?! - será que se ligar para este número sou pedida em casamento, ou assim?!) que eu nem me lembro de ter sido eu a gravar...

- Relembrei que as minhas orientadoras de estágio se chamavam Clementina e Serafina... What are the odds?!

- Descobri que o meu sobrinho de 3 anos me andou a gravar contactos imaginários enquanto brincava a "Pôr números", como ele constuma dizer! (Mas quem me manda a mim deixar o puto brincar com o telefone?!)

- Fiquei com uma vontade enorme de falar com uma pessoa... Porque para pessoas como esta, no nosso coração, dois ou três dias sem saber notícias já é tempo demais...

- Por último, como é típico em mim, estou com uma pena enorme de ter de deixar o velhinho... mesmo apesar dos níveis radioactivos de irritabilidade que ele tem provocado em mim!

Como vêem, isto de escrever números ad nauseam tem efeitos adversos sobre a sanidade mental...
Sobretudo se quando vais aí no contacto 120 um amigo te diz: Mas são os dois Nokia, o velho e o novo, não é?! Podes sincronizar os contactos de um para o outro através do software no PC. Não precisas de fazer isso manualmente!

Vou ali tratar-me e já volto...

22 de novembro de 2009

Viver no campo é...




... estar descansada
à secretária a traduzir,
olhar para a janela 
e ver um dos
perus
do meu pai
a debicar
o vidro...

21 de novembro de 2009

Guilty pleasure confessado

Nada a fazer... É irremediável...
Poderia tentar explicar porque gosto tanto de Robbie Williams e da sua música...
Muitos dos meus amigos olham para mim surpreendidos quando lhes digo isto... uma amiga muito querida disse-me inclusivamente com um sorriso matreiro: Mas... ele é um bad boy... e minha resposta limitou-se à devolução do sorriso matreiro...

Poderia tentar explicar...  mas não... limito-me a deixar isto... directamente do novo álbum...

20 de novembro de 2009

Ao amanhecer...

Os meus olhos abrem naturalmente, como se a noite me tivesse sussurado ao ouvido que não me queria mais inconsciente.
Não. A noite não.
A madrugada. Reina o seu silêncio ainda.
Por entre a rede densa da janela, gotas da luz ainda ténue e tímida do amanhecer salpicam o cortinado.
Sinto-me aconchegada e aninhada.
"Adormeci outra vez enrolada no roupão", penso.
As noites já não são clementes para com os ousados e fustigam-nos agora com um frio cortante.
Sinto-me feliz e acarinhada.
Que doce amanhecer!
Viro-me lentamente e é então que te vejo. És tu, afinal, quem me aconchegou dessa forma tão doce e me protegeu do frio e da solidão.
És tu que estás aqui comigo!
O roupão? Desse não preciso. Ficou na cadeira. Foste tu que o puseste lá, afinal. Eras tu quem havia de me afagar desta vez, não ele!
Sorrio.
Que forma perfeita de despertar, com a tua respiração suave contra a minha nuca e o bater do teu coração em sintonia com o meu!
Beijo-te ao de leve no rosto e digo bom dia bem baixinho.
Os teus lábios traçam um sorriso, depois as tuas pálpebreas levantam o cerco do sono e o teu olhar doce beija-me também.
Não são precisas palavras...

Enrolas-me novamente no teu regaço e prendes-me, como que dizendo para voltar a dormir...
Fecho os olhos e penso... Ainda não amanheceu, talvez feche os olhos e continue a sonhar contigo...


18 de novembro de 2009

O erro de (não) errar

«Errar é humano!»
«É com os erros que aprendemos!»
«De certeza que esse já não voltas a repetir!»
...

São tantos os clichés sobre erros em que nos apoiamos todos os dias... sobre como os evitar, como aprender com eles, como os justificar... mas... e o que se quer realmente dizer com eles?

Pergunto-me tantas vezes porque é que um medo tão grande de errar...

Diria - com pouca confiança, contudo - que tem tudo a ver com o vislumbrar do que vem depois. O mal, o problema, o medo não está em cometer o erro, mas sim em tudo aquilo que vem a seu reboque... a queda, o arrependimento, o desespero por corrigir... como se tudo isso fosse imprescindível, como se todos estivessem à espera nos ver levantar e limpar os estilhaços (e, na verdade, são raras as vezes em que nos cobram por isso... tão raras como aquelas em que alguém para além de nós próprios identificou o erro...)

A questão primordial, no entanto, é que, por conta da todas estas inseguranças e frustrações, acabamos por não viver devidamente. Porque o medo do erro paira sobre a nossa cabeça, deixamo-nos ficar para trás, encostamo-nos envergonhados ao fundo da sala, e deixamos a vida acontecer lá à frente, no palco que fomos convidados a pisar como protagonistas e que cobardemente recusámos.

E entretanto, assola-me a questão:

Porque é que errar tem de ser necessariamente um erro?!

Porque é que errar temos tanta dificuldade em assumir que errar é parte do processo?
Porque é que achamos que tem de haver solução e desculpa?
E porque é que pensamos tanto nestas coisas?...

17 de novembro de 2009

Um ano

Há precisamente um ano atrás embarquei nesta nova aventura profissional… Mais do que uma aventura, uma casa e uma família…

Por algum motivo, duas pessoas que pouco sabiam de mim além do que conto no CV decidiram apostar em mim, confiar em mim e no meu potencial, acolher-me na sua empresa e ensinar-me a sua arte…

Um ano de aprendizagem constante… de momentos de frustração, de momentos de vontade de desistir, virar as costas, mas de outros de vitória orgulhosa por ultrapassar obstáculos, progredir, mostrar que consigo, outros ainda de sorrisos, de gargalhadas…

Um ano a conhecer pessoas novas… a encontrar afinidades, amigos para a vida, ombros que me apoiam e braços que me acarinham…

Um ano a sentir o sufoco do subúrbio caminhar lado a lado com a satisfação de gostar do que faço… Este paradoxo de irritação a par da sensação de pertença…

O balanço é positivo, seja como for! Muito positivo! O meu caminho não se restringirá certamente a esta casa, mas espero pelo menos festejar mais alguns como este!

15 de novembro de 2009

Palavra do dia

em·brace /ım'breıs/ v
1 [I;T] to take and hold (someone or each other)
in the arms as a sign of love



As definições de palavras como esta aspiram meramente a dar uma vaga ideia de tudo aquilo que implicam... São simples, pouco elaboradas e, no entanto, fazem o melhor que conseguem...

Como descrever com palavras sensações que implicam tal intensidade emocional?
De uma forma apenas: sentir...

Sim, é para ti...

Códex vs. e-reader

Pouco menos de um mês de aulas a falar de questões ligadas ao universo editorial e confesso que estou absolutamente surpreendida com o estado das coisas...

Não sei se me intitule de anacronista ou de romântica, mas sinto-me assustada com a revolução digital que se está a instalar... Até há bem pouco tempo, julgava que os e-books seriam uma realidade longínqua e que, mesmo não o sendo, seria apenas um nicho de mercado pouco explorado...

A verdade é que foi entretanto lançada no mercado uma parafernália destes gadgets chamados e-readers...


Kindle (Amazon); Nook (Barnes&Noble)
Cybook  Opus (Booken); E-book Reader (Sony)*

O que é que estamos a fazer ao chamado códex, a forma de livro que conhecemos, usamos e amamos desde sempre?
Quanto a mim, não consigo imaginar-me a restringir a vivência da experiência de um livro sem folhear as suas páginas, sem sentir o cheiro do papel, sem usar eventualmente um lápis para assinalar alguma passagem que me tenha encantado...

Quero acreditar na opinião dos cépticos que continua a afirmar que este novo formato nunca suplantará a versão clássica do livro que, afinal, não sobreviveu por quase 20 séculos por acaso...
Quero acreditar que a maioria de nós consiga olhar para estas novas ferramentas e ver o mesmo que Alan Liu: "os e-books não se comportam como livros, mas como plataformas digitais controversas - e a sua adopção pode provocar distúrbios de atenção entre duas formas (ou mais) de má leitura."**

Seja como for, somos actualmente tão influenciados pelas tendências gerais do mercado global que daqui por uns anos vamos encontrar pessoas sentadas na praia, nos transportes públicos, numa esplanada, com uma coisita parecida com um telemóvel nas mãos em vez de um livro tal como o conhecemos e amamos...



*Apenas alguns exemplos... Há muitos mais...
**Citado do Editorial da LER deste mês

13 de novembro de 2009

Caminhar contigo



Caminhamos pela praia.
Os nossos pés sentem o fresco da manhã que a areia respira.
Sabe bem.

Aproxima-nos e faz-nos pedir sem palavras o calor um do outro.
O teu abraço envolve-me.
Sou pequena, caibo bem no teu regaço.

As pontas dos teus dedos brincam preguiçosamente no meu antebraço, como que querendo aí delinear o nosso caminho.

Por cima do mar, uma centelha do Sol desvia a cortina da névoa matinal e pisca-nos o olho em consentimento e cumplicidade.

Para onde caminhamos, afinal?
Em direcção a nós mesmos...

Porque as ondas da tua voz
lançam sobre mim salpicos de carinho.
Obrigada por isso....

11 de novembro de 2009

Pensamento do dia



A distância é apenas
uma proximidade que foi afastada.

Robert Schumann

10 de novembro de 2009

Balançar

E eu que nem gosto assim tanto (ou mesmo nada) desta menina.... fiquei sem palavras com esta nova música...

É tão minha...

8 de novembro de 2009

Dreammaker

I can see my own reflection mirrored in your dreams.
Distant, thorough dreammaker, your mind materializes pictures of pure perfection.
Your paintings give life to images only shyly imagined and never expressed.
You give beauty to things otherwise never noticed.
Paint me in white and flowers.
Imagine the best of me.
It's only yours.

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Vulnerável

… foi assim que me fiquei a sentir desde ontem à noite.


Noite perfeitamente pacífica. Jantar em casa da amiga. Boa companhia, boa disposição. Depois do jantar, vamos ver a vila à noite que é fantástica. E é. Um pequeno passeio à beira-rio. A vila é sossegada, no pasa nada… Ontem passou. Passou um maníaco alucinado que decidiu perseguir-nos de bicicleta enquanto passeávamos a pé…
Pegámos no carro e mudámos de local. Na outra parte da vila, há um barzinho porreiro. Ok. O idiota também conhece esse barzinho… Voltou a perseguir-nos quando regressávamos ao estacionamento… apalpou-me e fugiu…

Tudo bem, não foi grave!
Mas assim como fez esta brincadeira de adolescente, ou de parvo, como queiram, teria tido igual oportunidade de nos assaltar ou atacar a sério, o que quisesse…

Não sou menina de ter medo de andar sozinha. Nunca fui.
Mas ontem assustei-me.
Percebi que, afinal, sou vulnerável.
Não ter medo não é sinónimo de estar imune a ameaças estranhas…
Percebi que estou cansada de vaguear pelo mundo sozinha sem ter alguém que me proteja…



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7 de novembro de 2009

Pedro Paixão oferece livro


Descobri na OML deste mês que Pedro Paixão decidiu disponibilizar na íntegra o seu livro A Cidade Depois, um conjunto de textos escritos in loco no rescaldo do 11 de Setembro.
Segundo consta, disponibilizou-o gratuitamente online pois a obra, leitura recomendada para os alunos do 10º ano, esgotou nas bancas.
A OML diz "a isto chama-se intervir directamente na distribuição".
Eu pergunto: é um gesto de altruísmo puro (e sê-lo-á!), ou também uma forma de marketing?

Quanto a mim, que confesso, mea culpa, desconhecia a existência deste livro, fiquei curiosíssima e lá fui ao site fazer o download...

6 de novembro de 2009

Até sempre, Becky...

A minha Becky decidiu esta noite deixar de viver. Após 12 anos de vida, e à entrada do Outono, esta Husky doce achou que era suficiente e partiu...

Tenho um nó na garganta que me aperta faz brotar lágrimas nos olhos de cada vez que penso nisso. Por saudades, pela lembrança, mas também por que sinto que lhe dei pouca atenção nos últimos tempos...

A Becky era um bichinho lindo e misterioso, com um olho castanho e outro azul, absolutamente independente e elegante. Quando era novita, costumava deitar-se por baixo da mesinha do telefone e quando se levantava, levantava-se com ela a mesa e saltava o telefone, a jarrinha das flores e tudo o resto que lá estivesse...

De vez em quando passava-se e roía os pés das cadeiras, mas era adorável...

Quando a minha mãe considerou que ela estava demasiado grande (e peluda) para dormir em casa, mudou-se para um canil especialmente construído para ela, que dava para a janela do meu quarto...

Era extremamente forte... quando a levava a passear, era frequente ser arrastada ou mesmo cair por conta dos puxões dela...

No Outono e na Primavera, quando mudava de pêlo, lá tinha de a escovar, o que ela simplesmente detestava! Costumava sentar-se teimosamente no chão para eu não lhe escovar a cauda, fugia sempre que possível, mordia a escova, ... usava de todas as estratégias para boicotar o meu trabalho...

Tinha medo de carecas! Parece absurdo, mas é verdade! Enroscava o rabito entre as pernas e escondia-se onde pudesse quando se aproximava o meu tio careca! Adorava o meu pai, mas tinha-lhe um respeito sagrado, por conta da sua careca!

Afinal de contas, 12 anos de lembrança guardam em si muitas histórias...

Sinto que não fui grande dona e companheira nos últimos tempos... e isso aperta-me mais o tal nó na garganta... Desde que a Boobie foi lá para casa, é claro que foi ela se tornou a minha companheira... Tenho espaço no coração para as duas e para todos os outros, mas não tinha tempo para tanto...

Eu sabia que ela andava abatida e cansada já há uns dias, mas tenho chegado a casa tarde... da minha janela, a noite já não me deixava vê-la... Não ia ao pé dela já há uns dias... perdi a minha oportunidade de me despedir...


Grãos de Razão ao vento

A Razão foge-me pelos dedos...
Quero agarrá-la, mas não consigo.
Diluiu-a o instinto e o sabor doce do carinho,
transformou-a em voláteis grãos de areia.
Quero segurá-la,
trazê-la para junto de mim,
fazer dela minha aliada,
mas o vento não permite
e leva-a para longe...

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2 de novembro de 2009

Cidade de conto

Inspirada por um exercício que encontrei muito perto,
dei por mim a pincelar esta cidade do meu coração
num pequeno pedaço de papel que entretanto se perdeu...
e deixou-se encontrar hoje...
.............................................

Debruçada na varanda do Caminho do Filósofo, contemplo a tela que se estende perante mim.

Acariciada pelo beijo suave e pacífico do Neckar, a outra margem abre caminho para uma cidade de conto.

Na ténue linha de relva e plátanos, dois casais solitários passeiam indolentemente, alheios ao rebuliço da globalização que parece não ter chegado ainda aqui.

A malha é cerrada. Manchas entrecruzadas de telhados seculares parecem içar-se ansiosos para tentar alcançar os raios de Sol do fim da tarde que ainda reflectem nas vidraças das suas águas furtadas.

Aqui e além sobressaem atentos guardas: a torre da capela, as cúpulas da Velha Aula da faculdade, o campanário da igreja evangélica. Protegem nesta cidade de Amor e de Saber todos os seres que por ela circulam, que nela se aninham, que esperam o seu respeito e protecção, que aguardam beber dela e nela o tão ambicionado crescimento.

Ao fundo, tranquilo mas imponente, o castelo ergue-se sobre a cidade, observador atento, mas sem interferir. O seu tempo já passou. Sabe que agora se deve limitar a adornar respeitosamente o sopé da montanha, relembrando tempos de glória passados. E assim mesmo a sua presença inspira o respeito e a vénia de quem se surpreende por ver ainda viva esta cidadela orgulhosa de conto de fadas.

Atrás, aliada do castelo, a floresta trepa pela serra acima. Toalha uniforme apenas na aparência, pois esconde em si inúmeros pequenos pontos de vida, salpicos quase imperceptíveis de telhados e caminhos. Esta é a imbatível barreira de abrigo que protege o manto mágico que se estende aos seus próprios pés.

Só à distância consigo descrever esta visão extraordinária que também eu, sedenta de Amor e de Saber, fui descobrir tão longe e de repente tão perto de mim. Tal como o fez o filósofo um dia, também eu parei para contemplar apenas… e apenas muito tempo e palavras depois consigo pintar a verbo e nome a cidade que me deixou queda e encantada.


Heidelberg

1 de novembro de 2009

Serei eu a única pessoa que...



...acha que
se pensasse menos
e agisse mais
poderia ser
muito mais
feliz?...