Fascinada por ter viajado "No teu deserto"

O último livro publicado de Miguel Sousa Tavares vem assinalado como um "quase romance" e talvez por isso mesmo tenha sentido alguma relutância em pegar nele... Então, não é um romance, será uma crónica, um ensaio, um conto? O quê?
Acontece que entretanto fui recebendo um feedback tão positivo da sua leitura que fui finalmente levada pela curiosidade e resolvi descobrir, afinal, o que escondiam estas páginas...

Bom... apenas uma palavra:  apaixonante

Uma viagem retrospectiva - real ou imaginária, não importa - onde se descreve o nascimento de um amor, ou de um fascínio, de forma simples, transparente, mas sobretudo de forma verdadeira, falando-nos directamente à alma e levando-nos a reconhecer os nossos próprios devaneios, medos, sorrisos ocultos...

Não vos desvendo muito da história, mas incito-vos vivamente a mergulhar nela!
Deixo apenas duas passagens que tão bem entendo... precisamos tanto do silêncio, mas ao mesmo tempo temos tanto medo dele...

Quando um de nós ficava parado a contemplar o deserto, o outro não deveria dizer nada. Tudo o que se pudesse dizer naquelas alturas, ali, em frente ao nada ou ao absoluto, seria tão inútil que só poderia vir de uma alma fútil. Tudo o que se diz de desnecessário é estúpido, é um sinal desses tempos estúpidos em que falamos mais do que entendemos. (p.49)

As coisas mudaram muito, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; (…) E é por isso que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. (p.119)