Refugio-me sob a dança da chuva
num esforço para fugir das lembranças que correm atrás
de mim.
Um estacionamento. Dois lugares.
Um almoço combinado em cima do joelho.
Banal. Fast food. Sublime. Amor.
Renasce tudo.
Já não quero estar ali. Já não quero comer.
Fujo. Tão depressa quanto posso.
Chove. Melhor. Os pingos pintam o caminho das lágrimas.
Jardim solitário.
O velhote ao fundo que se abriga a si e ao cão
debaixo da copa da árvore grande.
Não me vê.
As poças de água do caminho reluzem.
Juro que se reflectem os raios de um Sol que hoje
não existe.
É aquele efeito estranho. Água que brilha na água. Ilusão.
Neste jardim, tudo se cobre de cores de Inverno hoje.
Não ajuda.
Mas eis que no meio da relva,
entre mais castanhos do que verdes,
surge o branco, enfim.
Asas claras que nascem improvavelmente no meio
de tanta opacidade, de tanta ausência.
Desafiam as leis da gravidade e lá estão elas.
Um milagre.
E no entanto tão simples e comuns.
E entretanto a chuva passa.
O cinzento persiste lá em cima,
mas isso é porque o Sol está aqui em baixo,
do outro lado da objectiva.
28 de Janeiro de 2011
Jardim de Alverca
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