26 de abril de 2010

Pombos "torcatos"

Ria-me que sempre que fazias as tuas piadas, mesmo que as estivesse a ouvir pela milésima vez...

Quando vias a fileira de pombos pousada na empena da tia, brincavas com o apelido do meu pai e dizias que aqueles eram pombos torcatos e não torcazes, porque o dono era o sr. António.
Meteste-te comigo até à exaustão com a minha gaffe do rebanho de perdizes. Riamos todos juntos, com vontade...

Tudo era motivo para fazeres mais uma gracinha e, curiosamente, às vezes eras tu ficavas a processar as nossas piadas. E depois ainda riamos mais com a tua reacção em diferido.

Levavas a vida com naturalidade, fazias o que tinhas vontade, dizias o que achavas que devia ser dito... Não adiavas prazeres nem obrigações, porque, dizias, nunca se sabe quando é que tudo acaba...

Não vou a cemitério... não é lá que te vejo...
Vejo-te, sim, aqui, nos momentos e lugares inesperados. Viro-me e de repente lá está uma memória tua à espreita. Depois de tanto tempo, ainda é assim... inexplicável...

Saudades...
Saudades dos teus pombos torcatos e dos rebanhos de perdizes...

23 de abril de 2010

Preciso de...

em king size,
de preferência...

22 de abril de 2010

Palavras imortais

- Trago-te aqui uma flor da terra - disse -; chama-se rosa.
(...)
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos vão embora.

~~~~~~~

Sem ti o mar, apesar de todas as suas anémonas, parecia triste e vazio. E eu passava os dias inteiros a suspirar.

~~~~~~~


Vergonhosamente, nunca tinha lido este pequeno grande livrinho.
Lembro-me de ter lido a Menina dos Fósforos do Hans Christian Andresen no ano escolar em que a maioria das crianças lê/lia este conto da Sophia.
Surgiu entretanto o pretexto ideal para pegar nele... e só o lamento não o ter feito há muito tempo atrás...
Foi tão bom fugir para esta beira-mar e conhecer este menino e esta menina cujos limites traçados pela realidade não os impedem de derrubar barreiras para combater a saudade para ficarem juntos...





20 de abril de 2010

Serei eu a única...

...que entende que a capacidade auditiva dos seres humanos não é directamente proporcional ao seu tamanho fisiológico?!!



Gritar com as crianças não implica que elas percebam, oiçam ou cumpram com mais sucesso o que lhes é pedido...

Farta de ouvir gritar com os pequeninos na creche aqui ao lado do escritório...

18 de abril de 2010

Just wandering*...



É difícil trazer uma utopia para a realidade.
Mas só o vislumbrar dessa hipótese
é já suficiente para fazer esboçar um sorriso
nos rostos de alguns de nós…
especialmente daqueles que têm escrúpulos em confessar que
ainda acreditam...

Pequena nuvem

Cansados de mensagens pendentes e de sentidos perdidos, exasperados com o defraudar das expectativas semeadas pelas infames maravilhas da tecnologia, decidiram enfim confiar as suas missivas a um Hermes mais fiel.

Numa noite de Abril, então, uma nuvem pequena mas determinada deslizou para cá e para lá, solicitamente trazendo e levando, penduradas e presas com doçura nas suas cordas de água, mensagens, sorrisos, palavras, silêncios…

E enquanto de um dos lados todas essas entregas permaneceram em eco até muito depois de dispensada a prestável nuvenzinha, essa cúmplice fiel regressou, pé ante pé, até ao outro lado e ali ficou, à janela, ainda durante um bom tempo, acariciando a persiana com os seus dedos suaves, repetindo sons e tons, espelhando o melhor que soube o eco das palavras do outro lado…


Porque me apeteceu dar vida
a essa companheira de ambos
 neste fim de noite.
E porque ela foi
a mais sortuda de nós os três.

15 de abril de 2010

Serei eu a única...

que tem uma colega que passa o dia a bufar?!
E com isso a emitir um barulho insuportável
que me dá ganas de a esganar!


E serei eu a única que tem vontade de experimentar tapar-lhe a boca e impedi-la de bufar, só para ver se ela implode?!!


Eu sei que isto soa assim um bocadinho a sadismo, mas não me consigo controlar hoje...

Isto...

... é isto que me apetece fazer:

Pena que me falte
o azul do céu,
o campo de flores
e o tempo para o fazer...

Trabalhar muito e dormir pouco e mal são receitas perfeitas para se neurificar...

14 de abril de 2010

E no dia 2 de Novembro...



... adivinhem lá
é que eu vou estar?!
:)

Just wandering*...

Se algum dia tivesse a sorte e a oportunidade de entrar no mundo editorial, gostaria de falar, pensar e agir como este senhor, Luís Oliveira, fundador e editor da Antígona.

Admirável pela paixão, teimosia e consistência com que fala e defende o seu projecto, contra todos os senãos e contra todas as tendências.
Pelo que de si ouvi hoje, o seu projecto é a sua vida, e a este tenciona manter-se fiel, a qualquer custo. Sem hesitações diria que é precisamente essa sua garra e persistência que sedimentaram a sua editora e o seu ideal editorial.

Que estas casas independentes preservem o seu carácter e consigam sobreviver à tempestade que tem vindo a fervilhar...

E que nós consigamos ser assim persistentes quanto ao nosso projecto (de vida)...

*not wondering

12 de abril de 2010

Cair

Do alto do promontório, olho para o rebentar borbulhante das ondas lá em baixo. No seu ritmo inconstante, as vagas vão açoitando o rochedo dourado que, assim fustigado, mais parece um gigante assustado e vulnerável.

Neste vai e vem, a vertigem leva-me.

Olho para baixo, para aquele instável chão de água e já não vejo mais nada. Não sei onde estou nem sinto já o chão debaixo dos meus pés. Sinto-me cair, sem rumo, sem corda, sem rede lá em baixo. Sinto as ondas de vento que me arrepiam a pele… ou serei eu que vou rasgando o seu tecido invisível ao longo da queda? Subitamente, começa a parecer-me tão sólido e seguro aquele mar azul turvo que, sei-o bem, é tão movediço como os lendários areais armadilhados que engolem todos os que apanham…

Nesta descida a pique, a velocidade aumenta e, estranhamente, o destino parece cada vez mais longínquo.

Vou sentindo no corpo o toque das memórias de dias de amor e sorrisos, os beijos daquele amante secreto, nunca esquecido, mas há muito ido para bem longe. Vou revendo as manchas deixadas pelo Sol daqueles dias irreflectidos em que as horas eram meros compassos dentro duma insignificante máquina e que nenhum poder tinham fora dela. Vou revisitando os arranhões do gato preto e branco, desse misterioso ser, tanto arisco como doce e apaixonado. Vou recordando o toque fresco do campo de trigo ainda verde nas minhas pernas, nesses dias em que corria descalça e acreditava que nunca me cansaria.

A descida acelera, irreversível agora, e o azul escurece, mais e mais…

De repente, tudo pára.

Imobilizada a imagem, abro os olhos, aponto-os novamente em direcção ao fundo do precipício e lentamente vou subindo até chegar ao horizonte, aquela linha ténue que separa os dois azuis. Estou ainda tão longe de alcançar esse horizonte…

Respiro fundo, deixo que o ar frio e salgado entre em mim por instantes e viro as costas ao abismo.

Não, o final não é, ainda, para hoje.

~ ~ ~ ~



Para o desafio de Abril,
subordinado ao tema Abismo


Foto minha
Praia do Vau,
11 de Abril de 2010

8 de abril de 2010

Há dias em que...

...não pára de gritar na minha cabeça...

7 de abril de 2010

(a) caminho

Enquanto percorria o caminho, fui gradualmente percebendo… Se, com o sol a bater-me no rosto, julgava levar comigo algo que fazia falta a alguém, fica de súbito muito claro que, pelo contrário, ia sim ao encontro de algo que me fazia falta a mim.


Do alto de toda esta pretensão, desta necessidade de provar a tudo e a todos que sim, que sobrevivo, que me aguento de pé sem ajuda, mesmo no meio de um furacão, vou percebendo que não sou mais do que um pequeno barquito, resistente e teimoso, que ora vai vogando ao sabor da maré, ora se insurge contra o vendaval, sempre convicto de que se salva a si e que, mais, insiste em salvar o seu marinheiro. Esse pequeno ser divagante precisa afinal de um porto de abrigo, de um cais onde possa finalmente parar e deixar acalmar a sua respiração...

4 de abril de 2010

Coisas de tia


O que é isto, Coelhinho?
É uma
mánica tofográfica,
tia!!

3 de abril de 2010

I'm...

... in desperate need of shoes...

1 de abril de 2010

e e cummings

Até mesmo quem perdeu as maiúsculas é capaz de se exprimir da forma mais doce e encantatória...

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i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)

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