28 de fevereiro de 2011

Estilhaços


Partem-se corações por aí ao desbarato em nome dos parcos argumentos de que queremos mais, de que ainda não é aquilo. Em nome da arrogância de que menos do que tudo não é nada. E afinal é precisamente o contrário - nada é precisamente o que sobra do menos do que tudo.

É verdade que mudar não é condição para o sucesso de uma relação, mas afinal, tantas vezes, basta apenas desviar-se uma meia dúzia de graus, engolir o maldito orgulho e… falar. Dizer o que falta em vez de esperar que, por um qualquer truque de prestidigitação, quem está perante nós adivinhe os sinais e descubra o que nos falta. O amor acontece entre seres humanos e não entre magos com poderes especiais e visão raio X. Levantar o olhar do próprio umbigo e perceber que esse ser humano do outro lado está tão vulnerável quanto nós próprios. Sentir e saber que do outro lado do espelho, o nosso bem reflecte a dor do outro lado. Pensar que nós podemos estar em qualquer um dos lados desse espelho e hesitar antes de atirar…

E no entanto essa coisa estranha que é amar o outro é tão paradoxalmente egoísta. A I parte em busca de mais e deixa o D à deriva. O N percebe que afinal não queria bem era aquilo que gritara aos 4 ventos e deixa a A no meio do caminho, sem mapa nem estrela-guia. A L não se atreve a dizer o que sente e deixa que o B passe por ela sem abrandar o passo. O F que não soube ser mais e a V teve de avançar…

Seria um círculo sim, se as pontas se tocassem, mas não, é uma espiral infinita e os pequenos pontos não são mais do que estilhaços de sentimentos que vão ficando perdidos pelo caminho… 

Imagem: Flickr

Silêncio

Primeiro a "solidão de Kant",
depois o "silêncio de Séneca"...

Máscara que guarda segredos.
Silêncio pelo segredo que tem de ser guardado…. 
Língua para comunicar.
Silêncio porque quem ouve não compreende…
Som que a voz abafa.
Silêncio de um coração que não consegue gritar…
Disfarce ilusório.
Silêncio em nome da ilusão de que está tudo bem…
Música que embala.
Silêncio para não despertar o monstro…
Muralha dúplice.
Silêncio que impede invasões, mas também não permite fugas…


[Seneca's Silence ~ Get Well Soon]

24 de fevereiro de 2011

Humpfff...

Facto:
Gramática explica-se
mas
semântica não!

Pior:
Semântica não é passível de se explicar a uma pessoa com um enquadramento linguístico diferente do nosso...

Às vezes consigo dou por mim a odiar o meu trabalho...

22 de fevereiro de 2011

Mazgani, falas bem português?

Pergunto-me o que terá passado (ou não) pela cabeça da Catarina Furtado ontem na gala da SPA para começar a entrevista ao Mazgani perguntando-lhe "Falas bem português?"...
Estaria escrito no teleponto?
Será que essa pergunta era para a Joan as Police Woman e ela trocou tudo?

É que mesmo não sabendo absolutamente nada sobre o artista, será que não conta o facto de ele ter acabado em português e ao vivo uma das músicas compostas pelo próprio para O Senhor Puntilla e o seu Criado Matti?...

Eu também só lhe conhecia músicas em inglês até ter assistido à peça...

Em caso de dúvida, não seria melhor omitir a questão?...

Quem é que...

(da Gala da SPA 2011)


... deixa um bilhete com um discurso para ler em caso de receber um prémio que começa com:

Muito obrigado.
Honestamente
não estava nada à espera
de receber este prémio.


Ora, se não estava à espera de o receber, porque é que escreveu um discurso de agradecimento?

E o coitado do emissário que teve de ler o discurso (é muito mau se admitir que não me lembro do nome dele?) ainda ficou admirado com a gargalhada abafada que se ouviu vinda do público...


20 de fevereiro de 2011

A educação musical de Anna XVII

Sons que ficam de um fim-de-semana introspectivo...
Foi eleita a revelação do ano nos Grammys e eu nem sabia quem ela era...
Trabalho de casa feito.
Uma descoberta feliz...

[Esperanza Spalding ~ Ponta de Areia]

14 de fevereiro de 2011

Sabemos que estamos a ficar velhos quando...

...é a piolha de 6 anos da família
que nos explica em pormenor o que é o Metin2
enquanto estamos as duas
a ver o irmão mais velho dela
a jogar...



(Quanto a mim, preferia que ela nem soubesse que o jogo existe, mas parece-me que isso já não é controlável, nos dias que correm...)

SMS - Como fazer mudar alguém de cor em meia dúzia de caracteres III

Não é bem cor-alvo,
mas antes uma gargalhada com gosto.!
(Porque somos todos meio alucinados...)

Feliz dia do valentino!

Pois que o nosso amigo 'Justino',
apesar de altamente indignado por haver um dia de
São Valentim e não um dia de São Justino,
decidiu desejar-nos assim mesmo um bom dia!
Que fofo!  


Somos um bocado patetas, nós!
We know...


A velhice

Certas noites, confessou [Iara], sonhava com a velhice. Ansiava por ser mais velha. [...] Talvez nessa altura não tivesse de se esforçar tanto para que reparassem não nela, mas naquilo que dizia. 
A velhice é uma merda, contrapus. E nem são palavras minhas. Jorge Amado respondeu assim a uma jornalista que lhe elogiou a idade. Sim, minha querida, a velhice é uma merda. Não há vantagem alguma em perder os dentes ou o cabelo, ou o controle da bexiga. Ninguém merece envelhecer [...]. 

José Eduardo Agualusa
Milagrário Pessoal

Li esta passagem do livro em inícios de Janeiro, ainda o meu avô mal tinha chegado a meio do seu período de internamento. Ainda ninguém sabia se ele regressaria a casa... e, se o fizesse, em que condições...

Vejo-o hoje, sentado no sofá, apenas por cortesia para com os filhos e netos, pois estaria bem melhor na cama. Parado, fraquinho, sem destreza de movimentos, um espírito lúcido num corpo que não quer responder. Eu dizia há um mês atrás que me parecia que ele tinha desistido de viver. Hoje diria antes que ele quer viver, mas é uma alma demasiado frágil a remar contra a maré do próprio corpo.

A beleza da velhice tem o seu reverso.

Envelhecer é acumular saber. É ter para ensinar. É poder finalmente descansar e aproveitar o prazer de descansar num banco de jardim numa tarde de Sol. É ter tempo e paciência para brincar com os netos. É enfeitiçar a família com histórias do passado que se vão diluindo entre a memória e a imaginação. 

Mas envelhecer é também perder saúde e força. É deixar de ajudar para precisar de ajuda. É perder capacidades. Físicas e fisiológicas. Psicológicas também, por vezes.

Envelhecer é bonito quando se tem a sorte (?!) de viver o processo com qualidade e paz. De resto... nem sei que diga... 



13 de fevereiro de 2011

O que importa é o sucesso da comunicação!


Se a mensagem passou, então all is well!
(ou não...)


(Do restaurante japonês onde estive no sábado
e cujo nome já me fugiu...)

10 de fevereiro de 2011

O que é o jantar?

Chego a casa, o Coelhito anda a saltitar à roda da avó...



Tia, tia! 
Sabes o que é o jantar hoje?!
Diz lá, bichinho!
Almongas!!

9 de fevereiro de 2011

Lost in translation I

【追加翻訳】
[Translation added]
Por norma dou a volta aos desafios de tradução que aparecem.
De modo mais ou menos rudimentar, com mais ou menos ajuda, lá me vou safando...

Mas texto para localização de software num ficheiro em japonês?!...
E ainda por cima cheio de macros que me complicam o sistema (o meu e o do PC!)?!!

Isso faz-se?!
Opah...

8 de fevereiro de 2011

Revivalismo musical

E conversas distraídas em família dão em revivalismos deste género.

Bolas, e eu ainda não tinha nascido 
quando isto apareceu!


[Jafumega ~ Latin'américa ~ 1982]

Wireless is back!


Desta vez, sou bem capaz de ter sido atendida pelo técnico da MEO mais prestável e paciente de todos!
(E vá lá que hoje não me ligou às 23h horas da noite como ontem!!)

Note to self:
Anna, se pensas que percebes alguma coisa disto, desengana-te!
És uma grande maçarica!!

5 de fevereiro de 2011

A educação musical de Anna XVI (Changes)

Changes
I've never been good with change...

[Changes ~ Stars]



O que dizer? É verdade...
Conversava ainda agora com o A. e constatava-o.
É extremamente difícil mudar, cortar, apagar qualquer coisa e renovar.
Comodismo, medo, cobardia, nostalgia?
Não sei...

Coisas tão simples como mudar o layout do blog (o Through my eyes tem cara lavada), escolher um novo toque para o telefone... ou coisas que envolvem mais responsabilidade, como trocar de carro... tudo implica uma certa dose de esforço e coragem... 

Por outro lado, no momento em que finalmente se dá o passo,  a sensação é absolutamente revigorante!

2 de fevereiro de 2011

Olhar em perspectiva

Há um par de anos atrás, numa loja de tapetes enquanto acompanhava dois amigos que estavam na altura a decorar a sua casa, dei por mim a olhar para a etiqueta de um tapete - muito feito, por sinal - onde figurava o valor de 600€ e dizer "Olha, este é barato!". Certamente que um tapete por 600€, ainda por cima feio, é uma enormidade, mas naquele momento foi isso que me saiu, depois de ter circulado pela loja e de ter visto um sem-número de tapetes, uns lindos, outros nem tanto, acima dos 1200€. É claro que em perspectiva, o de 600€ me pareceu francamente barato.


É quase sempre assim. Depois de termos passado por algo mais duro, mais intenso, mais complicado, mais caro, quando nos aparece pela frente algo que, por comparação, é menos do que o anterior, ficamos com a sensação de que temos perante nós uma trégua, uma réstia de sol por entre as nuvens da tempestade.


A A. foi hoje a uma entrevista de emprego e está muito entusiasmada. As condições são boas. Um horário regular, uma boa localização, que permite deslocar-se comodamente em transportes públicos, uma remuneração aceitável, funções dinâmicas e estimulantes.

Já perdi a conta aos diferentes empregos que a A. já teve. Uma loja de roupa, restaurante e supermercado dos pais, uma pastelaria (fabulosa), um hipermercado, tudo antes de concluir o curso, e depois professora do secundário, do básico, das AEC's, explicadora, formadora*, gestora de uma empresa, operadora de call centre... Esqueci-me de alguma? A A. já teve de enfrentar a constatação do fim de um sonho profissional, já teve de se sujeitar a acumular 4 part-times (4, meu deus!) para conseguir um ordenado mais ou menos normal e sei lá que outros desafios.

Surge-lhe agora a oportunidade de entrar para uma empresa onde eu já trabalhei e que já conheço bem, para assumir funções que pouco se prendem com questões didácticas, funções que envolvem a estimulante, mas também frustrante vertente de trabalhar por objectivos e que assumem um pendor comercial. Olho para o espólio de profissões que ela já teve e penso: bom, genica não lhe há-de faltar, paleio muito menos. Ela dá conta do recado!

Seja como for, não consigo deixar de pensar nesta questão da perspectiva: depois de um percurso tão atribulado, é claro que este emprego é bom, como o tapete que é barato.


Estou preocupada e apreensiva contigo, claro que estou!
Porque quero que as coisas comecem finalmente a correr melhor para ti.
Só queria era que as coisas fossem mais fáceis e que conseguisses um lugar a fazer aquilo de que realmente gostas e em que és boa.



* É a isto que se sujeitam
pessoas como eu que quiseram procurar o seu futuro
no mundo do ensino.
No meu caso,
felizmente (acho) acabei por entrar num atalho
que se revelou ser
o melhor caminho
para a estrada principal.

1 de fevereiro de 2011

Snapshots


Surgiu diante de mim no sábado à tarde.
Assim mesmo.
Tão intenso que até a minha pequenina câmara o conseguiu captar.
Tão bonito que me fez travar!
São metáforas assim que nos fazem suster a respiração!

Seguir-se-ia um (re)encontro há muito prometido.
Uma tarde bonita.
Mais bonita do que fria.
Apesar do vento cortante de Santa Cruz.