Partem-se corações por aí ao desbarato em nome dos parcos argumentos de que queremos mais, de que ainda não é aquilo. Em nome da arrogância de que menos do que tudo não é nada. E afinal é precisamente o contrário - nada é precisamente o que sobra do menos do que tudo.
É verdade que mudar não é condição para o sucesso de uma relação, mas afinal, tantas vezes, basta apenas desviar-se uma meia dúzia de graus, engolir o maldito orgulho e… falar. Dizer o que falta em vez de esperar que, por um qualquer truque de prestidigitação, quem está perante nós adivinhe os sinais e descubra o que nos falta. O amor acontece entre seres humanos e não entre magos com poderes especiais e visão raio X. Levantar o olhar do próprio umbigo e perceber que esse ser humano do outro lado está tão vulnerável quanto nós próprios. Sentir e saber que do outro lado do espelho, o nosso bem reflecte a dor do outro lado. Pensar que nós podemos estar em qualquer um dos lados desse espelho e hesitar antes de atirar…
E no entanto essa coisa estranha que é amar o outro é tão paradoxalmente egoísta. A I parte em busca de mais e deixa o D à deriva. O N percebe que afinal não queria bem era aquilo que gritara aos 4 ventos e deixa a A no meio do caminho, sem mapa nem estrela-guia. A L não se atreve a dizer o que sente e deixa que o B passe por ela sem abrandar o passo. O F que não soube ser mais e a V teve de avançar…
Seria um círculo sim, se as pontas se tocassem, mas não, é uma espiral infinita e os pequenos pontos não são mais do que estilhaços de sentimentos que vão ficando perdidos pelo caminho…
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