Num mundo calmo e simples, deram à luz pequenos seres e ambicionaram fazer deles alguém maior, alguém que tivesse força e destreza para alcançar patamares mais altos do que eles próprios conseguiram.
Nesse pequeno microcosmos, criaram-nos com carinho e simplicidade, depositaram neles grandes expectativas e, com grande esforço, mas também um infinito orgulho, mandaram-nos para longe, para a modernidade, para um mundo que eles próprios não conheciam, mas que fizeram questão de dar a conhecer...
Durante esse tempo, deixaram-nos conhecer, crescer, viver... Dotaram-nos da vontade e intenção de nos tornarmos seres iluminados, de provar o que há de bom e mau por aí... de experienciar grandes complexidades e de desenvolver a capacidade de nos desenvencilharmos delas.
E enquanto nós cresciamos, enquanto inconscientemente nos íamos tornando demasiado grandes para voltar a caber naquele mundo, eles, por lá, incubávam novas expectativas, entrançavam os vimes de um ninho para onde esperavam, seguros, que regressássemos, dócil e obedientemente...
O que não podiam adivinhar era que, entretanto, aqueles pequenos espíritos sedentos de saber e de vida, iam crescendo e complexificando aos poucos, e que dificilmente poderiam voltar a compreender e a caber naquele mundo que os esperava ansiosamente de volta, que queria abracá-los como se de filhos pródigos se tratassem, que regressavam finalmente, desiludidos com o que experienciaram lá fora e dando finalmente o valor devido ao que ficara para trás...
Não. Estes novos seres deixaram de ter um espaço neste pequeno mundo que os originou, este mundo que os impulsionou para o infinito e agora espera que regressem e que façam sentido de tudo o que ficou parado à sua espera.
Fizeram de nós seres maiores, seres mais complexos, mais sofisticados, seres com espírito crítico e horizontes longínquos. Almas que deixaram de caber nesse mundo. Almas desterradas que não têm já um espaço no passado, mas que não têm também a força para se destrinçar deste sem remorsos e para partir em busca desses horizontes... Seres que já não se reconhecem na sua pátria, que ficaram à deriva num lingo com tentáculos que ora os puxam para o passado, ora os seduzem para o futuro...
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